Quantcast
Channel: Trip
Viewing all 2939 articles
Browse latest View live

O Martin Potter do mangue?

$
0
0


Divulgação (Otto) / Allamy (Martin)

Otto e Martin Porter

Otto e Martin Porter

“Eu estava nesse campinho, dormindo embaixo do palanque do campeonato mundial de surf, entre La Canau e Carcan-Plage [França]. Foi o primeiro título mundial do Kelly Slater, o Fabinho Gouveia competiu. O Martin Potter era uma estrela, ele saía do mar e ia direto para o hotel. De repente, chegam oito brasileiros, a maior delegação. E o Carlos Burle, que é o cara mais brincalhão, apontava pra mim e dizia: ‘É o Martin Potter!’. Logo estavam todas as crianças francesas me rodeando, pedindo autógrafo.”

Otto, relembrando seus minutos de ídolo do surf, em entrevista ao Trip FM em 19 de outubro.

Ouça emhttp://tinyurl.com/c799nv2


26 anos de praia: Olhar pro mar

$
0
0


O fotógrafo norte-americano Aaron Chang é o olhar da Trip no outside das principais praias de surf do mundo desde a primeira edição da revista. Depois de muito remar em seu arquivo fotográfico, selecionamos a sequência de fotos que comprova que Chang consegue fazer seu melhor há muito tempo. No dia 25 de dezembro de 1989, ele foi o único fotógrafo a registrar o momento exato do acidente (e todo o resgate) que fraturou o fêmur do havaiano Titus Kinimaka, num dia épico de surf na baía de Waimea, no North Shore do Havaí.

“Acho que sou uma pessoa insegura, e acho minha segurança na fotografia. Continuo crescendo, continuo imaturo, e isso está relacionado com o fato de ficar muito tempo na água, surfando. Eu nunca quero parar de surfar, é a melhor coisa na vida até agora” - Aaron Chang na entrevista de Páginas Negras na Trip #12, em 1989

26 anos de praia: Toda e qualquer viagem

$
0
0


A Trip sempre produziu viagens pelos quatro cantos do planeta na busca pelas melhores ondas (e histórias). Essa busca foi tão longe que o esporte ganhou novos terrenos, cada vez mais inusitados. Na água doce, na areia, entre geleiras ou na pedra, onde houver um sujeito disposto a encarar um drop inédito, a revista estará lá para relatar o que sentem aqueles que expandem os limites

26 anos de praia: Mitos e desbravadores

$
0
0


Todo esporte precisa de pessoas dispostas a extrapolar os limites do normal para que possa evoluir. O surf nacional e mundial é terra fértil nesse sentido. Não fosse um punhado de homens destemidos e arrojados talvez o esporte nem tivesse chegado ao Brasil, não seria um dos mais praticados do mundo, não teria se desdobrado em novas modalidades. Ao longo de sua história, a Trip registrou em suas páginas a sabedoria e a história de alguns dos protagonistas fundamentais para levar o surf a um lugar mais nobre. Mais perto de onde ele merece estar

Frases dos mitos tubulares da Trip:

“livrei-me da casca da burguesia, aquela coisa que faz com que as pessoas de certo status social fiquem todas parecidas no mundo inteiro” Arduino Colasanti

“pra mim, Nenhuma época dá mais saudade que outra, eu acho minha vida muito boa. eu gosto do passado, do presente e espero um futuro bom” Petit

“Quando você quiser encarar uma onda gigante, olha o mar por 30 segundos, vai de cabeça baixa pra beira, entra e vai embora. Se você ficar olhando muito, cara, você não cai” Bocão

Instasurf

$
0
0


Waimea Bay, Mentawai, Jeffreys Bay, Trestles, Banzai Pipeline. Todas essas são praias que com o passar dos anos tornaram-se sonhos de consumo dos surfistas do mundo todo. Para muitos, a distância e os custos tornam esses lugares paraísos inacessíveis que antigamente só podiam ser vistos através de vídeos e fotos de surf nas revistas especializadas.

Na era do social networking, porém, esses picos paradisíacos ficaram mais próximos. Um simples clique pode revelar o que está acontecendo neste exato momento nesses grandes palcos do surf mundial, esteja você onde estiver.

Graças ao Instagram, essa distância se encurtou ainda mais. Então com a chegada do verão por aqui, listamos uma série de imagens publicadas através do aplicativo que mostram como estão as condições de surf nessas que são algumas das mais famosas praias do planeta.

Veja na galeria e morra de inveja dessa galera que está aproveitando a vida no litoral em grande estilo.

Retrospectiva World Tour 2012

$
0
0


Joel Parkinson sagrou-se neste ano Campeão Mundial de Surf pela primeira vez em sua carreira. Parko venceu a última etapa do torneio de 2012, o tradicionalíssimo Billabong Pipe Masters em Banzai Pipeline, Havaí, deixando na saudades seu compatriota Josh Kerr na final e garantindo o título da ASP sobre ninguém menos que o lendário Kelly Slater.

Parko chegou a três finais no ano (Rio de Janeiro, Teahupoo, Trestles) antes de garantir sua primeira etapa no ano e o título mundial. Depois de ser vice em 2002, 2004, 2009 e 2011, ele leva seu primeiro título mesmo sem a final que todos estavam esperando em Pipeline.

Slater, maior rival de Parko no ano, perdeu a semifinal do Pipe Masters para Josh Kerr e viu seu sonho de ser 12 vezes campeão atrasado por mais um ano.

Dois brasileiros chegaram ao Top 10 nesse ano. O melhor colocado foi Adriano de Souza, que ficou com um 5º lugar depois de várias semifinais disputadas e um vice no Quicksilver Pro Gold Coast, na Austrália, etapa que abriu o torneio. O menino prodígio Gabriel Medina terminou o ano em sétimo, chegando a duas finais: no Volcom Pro Fiji (quando perdeu para Kelly Slater) e no Rip Curl Pro Portugal, quando perdeu para o australiano Julian Wilson.

E para comemorar o primeiro e merecidíssimo título de Joel Parkinson, lembramos os 10 melhores momentos das 10 etapas do ASP World Tour desse ano, lista que você vê na galeria.

Veja abaixo como ficou a classificação do ano no Tour:

1 - Joel Parkinson (AUS)
2 - Kelly Slater (EUA)
3 - Mick Fanning (AUS)
4 - John John Florence (HAW)
5 - Adriano De Souza (BRA)
6 - Taj Burrow (AUS)
7 - Gabriel Medina (BRA)
8 - Josh Kerr (AUS)
9 - Julian Wilson (AUS)
10 - Owen Wright (AUS)

Lemann bróders

$
0
0


O Arpoador, canto de pedras com ondas perfeitas colocado estrategicamente entre Ipanema e Copacabana, foi o esplêndido berço da turma que procurava uma vida diferente da traçada para a juventude no final dos anos cinquenta. Desse “laboratório de lifestyle” saíram não apenas boa parte dos contornos da cultura de praia carioca (e brasileira), mas percepções e insights fundamentais para a formação de um dos mais notáveis empresários do país – e, entre outras coisas, o homem mais rico do Brasil

Foi há 60 anos, mas ele descreve como se tivesse acontecido na semana passada. Arduíno Colasanti chegou ao canto esquerdo de Ipanema e viu um broto espetacular na água. “Ela estava descendo umas marolas de peito. Só havia nós dois na praia, e eu lhe ofereci minha tabuinha de pegar jacaré”, conta. Ela tinha 15 anos; ele, 16 – apenas cinco de Brasil. “Eu era muito italianinho ainda. Minha prancha tinha pintada a loba de Roma.” Filha da primeira mulher a usar maiô de duas peças no Brasil (a bela alemã Miriam Etz), a moça tinha puxado à mãe também no comportamento avançado. Seu pai, Hans, era um artista plástico boêmio, amigo de Paul Klee e Alexander Calder. Não demorou muito até que Ira (batizada Iracema) e Arduíno dessem as mãos pela primeira vez, em uma sessão de Scaramouche no cinema Metro, trocassem referências literárias avançadas para suas idades e daí engrenassem um namoro.

Cultos e belos, louríssimos, por três anos os dois formariam o mais admirado casal do Arpoador, naquela época o point preferido dos gringos e dos adeptos da pesca submarina. Entre 1955 e 1963, a mistura de estrangeiros de modos liberais e jovens esportistas com sede de contato com a natureza gerou, segundo a definição de Ruy Castro, “o grande laboratório de costumes da cidade”. Em crônica, Drummond arriscou definir assim o pedaço de areia: “É aquele lugar dentro da Guanabara e fora do mundo aonde não vamos quase nunca e onde desejaríamos (obscuramente) viver”.

“Havia na praia os grupinhos: o dos alemães, o dos franceses... Os brasileiros que não praticavam atividades esportivas tinham preguiça de andar até o Arpoador”, lembra Arduíno. Além da beleza das pedras, cenário onde o cronista João do Rio jurou ter visto Isadora Duncan dançar nua, em 1917 (“uma daquelas paisagens de Shelley em que a natureza parece findar-se no inebriamento espiritual de sua própria luxúria”), havia as ondas, muito melhores que as da vizinhança para a prática do jacaré.

Arduíno Colasanti conta que o primeiro que viu em pé sobre uma prancha foi Paulinho Preguiça. “Antes, só em revista”

Arduíno pegava o bonde 11 do Jardim Botânico, onde morava, até o Bar 20, no lado oposto de Ipanema, e de lá tomava o Gal (tratamento popular dispensado ao general) Osório para saltar no ponto final, a cerca de um quilômetro da Pedra do Arpoador. O namoro com Ira lhe facilitou as atividades marítimas. “Ela morava ali perto, na rua Joaquim Nabuco, e eu guardava minhas tralhas de praia lá: a tábua de jacaré e o material de mergulho. Se tivesse onda, era jacaré. Se estivesse manso, mergulho e pesca.”

Preguiça e Bisão

A história do surf no Brasil registra que, em 1938, na praia do Gonzaga, em Santos, Osmar Gonçalves, Juá Haffers e Silvio Manzoni conseguiam ficar em pé numa prancha – que eles mesmos construíram. Thomas Rittscher, morto no ano passado, garantia ter feito isso antes, entre 1934 e 1936, lá mesmo, em Santos. Em 1947, na casa do mitológico Paulinho Preguiça (também falecido), pertinho do Arpoador, o engenheiro Luiz Carlos Vital – o Bisão – construiu, com ajuda de George Grande e outros amigos, uma prancha oca enorme, quatro metros, com tampa e tudo. As ondas eram pegas em dupla, com Bisão, mais pesado, sempre na popa. O apelido, DC-4, remetia ao modelo de avião que ajudou a popularizar os voos comerciais intercontinentais depois da Segunda Guerra. Mas estava longe de ser eficiente, como atesta o depoimento de Grande: “Tomamos tombos horríveis, até que um dia consegui ficar em pé. Foi um jacaré maravilhoso. Depois a onda estourou, nos embrulhamos e a DC-4 se espatifou”. Mais jovem que essa turma, Arduíno Colasanti conta que o primeiro que viu em pé sobre uma prancha foi Paulinho Preguiça. “Antes, só em revista.”

“Prancha” é uma licença poética: aquela tábua plana, sem quilha e quase quadrada era conhecida na praia como “porta de igreja”. “O Paulo descia do Pontão do Arpoador ajoelhado e, quando a onda dava aquela ‘meia enchida’, ele ficava em pé.” Os mais jovens ficaram impressionados e queriam fazer igual. Estava deflagrada uma corrida tecnológica por modelos que possibilitassem reproduzir a façanha daquele sujeito com profissão moderna: Paulo e ra operador de câmera de TV.

Arquivo Pessoal/ Irencyr Brandão

Arduíno Colasanti e sua lendária prancha “porta de igreja”

Arduíno Colasanti e sua lendária prancha “porta de igreja”

Arduíno, que anos depois faria carreira como ator, conseguiu ficar em pé antes dos outros. Mais uma para a conta do italiano, também pioneiro na caça submarina, acostumado a desbravar lajes e a pegar os maiores peixes. Mas Bisão aperfeiçoou a curvatura da proa das pranchas e agraciou os melhores “pegadores” de joelho da turma com seis modelos iguais. E uma nova geração chegou forte. “O Jorge era o mais habilidoso, o melhor de todos nós, disparado”, relata Arduíno.

O Jorge em questão é Jorge Paulo Lemann, um dos controladores da AB Inbev, o 36º homem mais rico do mundo, que no final de novembro ultrapassou Eike Batista no posto de mais rico do Brasil. Filho de suíços, Lemann morava no Leblon, em uma casa belíssima em frente ao canal da rua Visconde de Albuquerque. Segundo as memórias dos contemporâneos, era o único que tinha carro, um Ford cinza conversível. Aos 73 anos, o empresário gosta de recordar os tempos de praia, vividos entre 1959 e 1961, antes de trocar o Arpoador pela mais conceituada universidade americana.

Foi o que fez no ano passado, em São Paulo, na palestra “O que aprendi em Harvard”, ao citar que era “um dos melhores surfistas do Rio”. Lemann fez o elogio de assumir riscos de forma responsável, algo que a universidade raramente ensina. Confundindo as unidades de medida, contou sua experiência com ondas de “dez a 12 metros” (certamente dez a 12 pés, algo entre três metros e três metros e meio) numa ressaca em Copacabana. “Eram tão grandes que era impossível nadar por baixo delas. No final, encaixotavam. (...) Peguei a onda, senti o sangue todo correndo pros pés, a velocidade era muito maior do que a que estava acostumado. E consegui sair antes que encaixotasse. Meus colegas falaram: ‘Vamos voltar’. Eu disse: ‘Pra mim, chega’. Gostei de sentir aquele perigo mas não queria repetir. (...) Em vários momentos da carreira me lembrei daquela onda, me dava mais segurança do que tudo que aprendi na faculdade. Tomar riscos no esporte contribuiu muito para tudo que aconteceu na minha trajetória.”

(Nos anos 90, depois de muito tempo sem surfar, Lemann foi ao Havaí e não resistiu a alugar uma prancha. Foi castigado com uma queda que lhe fraturou a costela.)

“Só treinando, só praticando, só ousando você consegue as coisas”, disse Lemann. “Pegar as maiores ondas possíveis, fazer as coisas mais difíceis... Tudo isso me ajudou a me tornar o empresário que eu sou”

Lemann quase foi expulso de Harvard por comemorar o fim de seu primeiro ano letivo soltando cabeções de nego – de fabricação brasileira! No Rio, chegava a matar aulas em dias de mar excepcionalmente bom. Seu sonho de moleque era ser o maior tenista do mundo (foi pentacampeão brasileiro e jogou pela Suíça na Copa Davis de 1962), mas as ondas grandes o levavam para outra dimensão. “Era emocionante. Minha mãe às vezes tinha que me tirar do mar para me levar para um torneio de tênis”, revelou, em depoimento a um documentário (ainda inédito) sobre a história do surf no Brasil.

Com as pranchas inadequadas e pesadas da época, aconteciam acidentes: Lemann precisou costurar a testa e teve cortes nos dedos após algumas trombadas. Mas aprendeu no Arpoador lições que soube tornar valiosíssimas: “Só treinando, só praticando, só ousando você consegue as coisas. Pegar as maiores ondas possíveis, fazer as coisas mais difíceis... Tudo isso me ajudou a me tornar o empresário que eu sou”.

Outro surf

O talento de Lemann no mar foi testemunhado por poucos. Quando voltou ao Brasil, o surf já era outro. Irencyr Beltrão, o Barriguinha, descobriu na ilha do Governador um carpinteiro que fabricava lanchinhas voadeiras com um compensado naval resistente à água do mar. Com isso, veio a era da madeirite, com pranchas mais adequadas e novos surfistas. Jorge Bally, o Jorge Perseguição, ou simplesmente Persegue, foi o sucessor de Lemann entre os jovens talentos do Arpoador.

Ele conta que os mais velhos não diziam onde fabricavam seus cobiçados modelos. “Era tudo enrustido.” Mas Arduíno, que inicialmente trabalhava sozinho e não estava associado a Barriguinha nas invenções, acabou socializando o segredo. Em parceria com Persegue, aperfeiçoou as madeirites, graças aos ensinamentos de um velho exemplar da revista americana Popular Mechanics que o pai do jovem possuía.

Nesse tempo todo, a “paisagem lunar” descrita por João do Rio continuou culturalmente fervendo. Roberto Menescal, da turma da caça submarina, ajudava a colocar a bossa nova em alto-mar. Em 1959, quando a revista Manchete quis dar uma capa com João Gilberto, fotografado nas pedras do Arpoador, o editor Justino Martins achou por bem garantir as vendas colocando no quadro, muito maior, a musa do pedaço: Ira Etz, a essa altura, com 22 anos, tão emancipada e antenada (vivera em Nova York, no Greenwich Village dos beatniks, depois do fim do namoro com Arduíno) quanto linda.

Quando a revista “Manchete” quis dar uma capa com João Gilberto em 1959, achou por bem garantir as vendas colocando no quadro a musa do arpoador, Ira Etz, emancipada e antenada

Os pais de muitas moças eram estrangeiros e seus costumes, liberais. Elas podiam usar biquínis menores (avistados por ali desde 1951, antes do resto do país), viajar com namorado e até pegar onda. Como resume Arduíno: “As meninas começaram a dar. Acabou a coisa de os rapazes terem de ir à zona. A convivência entre os sexos ficou mais natural.”

Ver aqueles brotos descendo as ondas era “a coisa mais linda”, derrete-se ele. Uma das pioneiras, Maria Helena Beltrão, foi fisgada por Barriguinha, com quem se casou aos 18. Fernanda Guerra fazia judô e natação, sempre com o incentivo do pai, Walter, e da mãe, que era americana. Ela lembra daquele tempo como um privilégio. “Éramos umas 40 pessoas, todo mundo amigo. Um usando a prancha do outro. A gente saía da água e tinha uma fila esperando.”

Até dois anos antes, a meta de quem pegava onda no Arpoador era ficar em pé na prancha e ir o mais longe possível na diagonal. “O suprassumo era chegar no edifício da esquina da Francisco Otaviano, mas isso era alcançado poucas vezes.”

Em 1964, veio a revolução: um australiano chamado Peter Troy chegou da Amazônia peruana disposto a explorar as ondas brasileiras, mas combalido por amebíase. Foi acolhido por Barriguinha, cujo pai era médico. Quando o gringo ficou bom, Arduíno tinha acabado de fazer um bem-sucedido modelo de longboard (mais de três metros) usando resina epóxi, que não corroía o isopor dos moldes. Como o mar no Arpoador não estava bom, levaram Troy até um selvagem Recreio dos Bandeirantes, a 35 quilômetros dali. “Ele pegou duas ondas. Andou em cima da prancha. Fez um hang five com a perninha esticada. Depois deu um bottom turn, mas tão cavado que arrancou o fundo da prancha.”

Quando aquele garoto australiano entrou no mar com uma prancha de fibra de vidro foi um choque para os brasileiros. “Ele mostrou coisas que nós nem sabíamos que podiam ser feitas”, lembra Arduíno Colasanti

Boquiaberto, Arduíno não ficou chateado com a “morte” de seu modelo. Ele e todos os amigos que estavam de plateia encararam como uma aula, repetida em escala muito maior no Arpoador, com uma prancha americana Bing de fibra de vidro emprestada por um adolescente americano chamado Russell Coffin, filho de um executivo da Coca-Cola que anos depois viria a se tornar fabricante de blocos de poliuretano para pranchas de surf. “O queixo da gente caiu. Ele mostrou um monte de coisas que não sabíamos que podiam ser feitas.”

Troy surfou poucas vezes no Rio antes de seguir a vida de viajante, três meses após a chegada. Soul surfer da mais pura essência, pegou ondas em 140 países, desbravando picos míticos como Nias, na Indonésia. Retornaria ao Brasil em 1981 e 2002, sem cair novamente no palco inaugural do surf no Brasil. Em 2008, aos 59 anos, morreu, com um coágulo no pulmão.

Sua passagem em 1964 foi um divisor de águas brutal. “Muita gente deixou de surfar com a passagem da madeirite para a fibra. Foi uma mudança da água pro vinho”, conta o veterano Armando Serra, 63 anos. A partir daí, começaram a aparecer mais e mais americanos e pranchas importadas no cantinho de Ipanema. Com eles, pouco depois, a maconha. “É surpreendente, porque poderia ter vindo dos morros, ali do lado. Mas veio com eles.
A princípio foi combatida, mas foi ficando... mais aceita. E passou a ser até um gesto revolucionário”, revela Arduíno, adiantando o relógio até 1968.

Modesto, ele diz que teve muito reconhecimento para “pouca produção” e faz questão de desmitificar a condição histórica de primeiro campeão de surf no país. “O torneio que tínhamos combinado era de pesca, com um churrasco marcado para depois. Mas o mar estava de ressaca, e fomos direto pro churrasco. Lá, tomamos caipirinhas e chegamos à conclusão de que, se tinha onda, o campeonato deveria ser de surf. Viemos pro Arpoador com aquelas meninas todas – porque era uma festa . O vencedor era definido por aclamação do público, e eu ganhei só porque peguei mais ondas. E porque o Jorge Americano (ou seja, Jorge Paulo Lemann) não estava. E porque a minha namorada, a Ira, era meio ‘chefeta’ da praia, levou umas amigas e comandou a torcida por mim.”

Um orgulho, porém, ninguém tira de Arduíno Colasanti: “Eu era o melhor pescador do Arpoador. Sempre fui”.

Backflips no North Shore

$
0
0


Assim como no skate, os destaques do surf estão surgindo cada vez mais cedo. No começo de 2013, por exemplo, quem está roubando a cena no inverno havaiano é o jovem catarinense Yago Dora, que aos 16 anos de idade foi o segundo surfista da temporada a acertar um complexo double grab backflip. A inspiração, é claro, veio de outro jovem talento do Brasil, que não por acaso foi o primeiro surfista do ano a voltar a manobra nas ondas do North Shore, Gabriel Medina.

A manobra foi notícia até no site da ESPN internacional, de onde saiu o vídeo que você vê aqui. A reportagem americana ainda conversou com o pai e treinador de Yago, Leandro Dora, que comentou o regimento de treinos que tem dado muito resultado para seu filho e para os outros jovens surfistas que praticam sob seus cuidados.

"Eu não tenho surfado tanto quanto os garotos", comentou Leandro. "Mas a molecada está progredindo constantemente e eu sinto que é muito importante filmar, guiar e motivá-los a sempre fazer o melhor que podem."

Veja o vídeo e impressione-se com o double grab backflip do jovem Yago. Te cuida, Medina!


Meu nome é tow-in

$
0
0


Reprodução/Twitter

Garret McNamara surfa em Portugal uma onda que pode ter passado dos 30 metros

Garret McNamara surfa em Portugal uma onda que pode ter passado dos 30 metros

Recordista do Guiness Book que detém a marca da maior onda já surfada na história, o havaiano Garrett McNamara é sinônimo de tow-in surf. Em novembro de 2011, em um estreito canal na costa de Nazaré, em Portugal, ele bateu uma marca histórica surfando uma onda de 90 pés, o que equivale a cerca de 27 metros de altura. Agora, no inverno de 2013, ele supera a própria marca e dropa um paredão que pode ter chegado aos 100 pés, quase 30 metros e meio.

A proeza rolou sobre um canyon de mil pés de profundidade único no mundo, que forma um funil no fundo do mar em um corredor que se estende quase até a costa. As condições únicas de Nazaré servem então como um amplificador de grandes swells, onde se vêem ondas surfáveis em tamanhos antes inimagináveis para qualquer big rider.

O tamanho exato da onda ainda tem que ser confirmado pelo Guinness Book, mas só pelo vídeo já dá para ter uma ideia do que é encarar uma parede deste tamanho.

Em um país como Portugal, onde a fascinação pelo mar é única no planeta, Garret deixou mais uma vez sua marca. Com o recorde novamente nas mãos, Mcnamara pode fazer suas as palavras de Fernando Pessoa: "Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu."

Força diplomática

$
0
0


Sempre cabe mais um brasileiro na casa de Marama Lemaire, policial e guia de surfistas que vive ao lado das temidas ondas de Teahupoo, no Taiti

Teahupoo, Taiti, 2008. O niteroiense Bruno Santos pega dois tubos, soma nota 9,16 e se torna o primeiro surfista brasileiro a ganhar um título na onda mais temida do circuito mundial – por motivos imagináveis, o nome significa “crânio quebrado” em língua polinésia. O barco que abrigava fotógrafos, surfistas e imprensa brasileira balançou de alegria. E quem mais comemorava a bordo era um taitiano: Marama Lemaire, o dono.

Explica-se. Hoje com 37 anos, trabalhando como policial e vivendo nas cercanias da onda lendária, Marama fez de sua casa o reduto oficial dos surfistas brasileiros que vão ao Taiti encarar Teahupoo. Conhecida como a “embaixada brasileira no Taiti”, sua casa ficou lotada na noite da vitória de Bruno. “Acho que ele nunca tinha visto um churrasco daquelas proporções”, desconfia o campeão.

A relação de Marama com nossos atletas vem do tempo em que o surf profissional chegou ao Taiti. O primeiro campeonato da ASP (Association of Surfing Professionals) em Teahupoo aconteceu em 1997. “O mundo ainda não conhecia aquela onda”, conta o surfista Renan Rocha, carioca que cresceu e vive em São Paulo. “Era só para os locais e um ou outro mais casca-grossa.”

Como a grana era curta, improvisou-se: as pranchas foram transportadas em caminhões de lixo e os atletas se hospedaram com famílias locais. Renan estava com os pais e preferiu bancar um hotel. Mas, no dia seguinte, ouviu Pedro Muller contar que seus anfitriões eram “demais”. Acabou se mudando para a mesma casa que o amigo – por acaso, a dos sogros de Marama. Ficou tão amigo do taitiano que este deu o nome Renan ao filho, nascido meses depois.

Respeito

A ASP voltaria ao Taiti todos os anos, e a fama de Marama entre os brasileiros só cresceria. Em 2010, ele separou-se da mulher e foi morar no que se tornaria a Marama House, misto de hostel e pousada especializado em surfistas. Com barco para levar os interessados até perto da onda de Teahupoo, que quebra longe da areia, em uma bancada de corais. “Todo mundo ficava lá pela segurança, pela energia, pela estrutura e pelo conhecimento que ele tinha do lugar”, conta Renan.

Marama virou policial há dez anos, não exatamente por escolha ou vocação. “O prefeito me escolheu para trabalhar na polícia”, diz. “E não dá para recusar.” Na época, quatro policiais cuidavam de Teahupoo, Vairao e Toahutu. Hoje são 13, para uma população de 17 mil pessoas. Nenhum deles usa armas de fogo – as ocorrências não passam de brigas de bêbados nos fins de semana.

“No começo, não gostava do trabalho, mas hoje amo. Vivo em contato com as pessoas, com os políticos”, diz Marama. Mesmo quando se afasta do serviço, no mês do campeonato mundial de surf em Teahupoo, o crachá da polícia é uma qualificação extra. “Os locais o respeitam, como policial e como pessoa”, conta o fotógrafo Aleko Stergiou. “Marama sempre está no melhor lugar. Principalmente no canal de Teahupoo, onde o bicho pega mesmo, com 30 barcos disputando um espaço de 10 metros.”

Edson

A “embaixada brasileira no Taiti” é um lugar simples. A casa tem quatro quartos com camas e comporta por volta de 12 pessoas. Do lado de fora, no quintal, há uma edícula para as pranchas, garagem com dois jet skis e um carro, cozinha e píer para o barco. Fica em Vairao, praia ao lado de Teahupoo, que nem por isso tem ondas piores. “A esquerda de Vairao é alucinante”, garante Bruno. “É um pouco mais fácil que a de Teahupoo, tem gente surfando ali direto.”

Quando o mar está sem onda, Marama leva os brasileiros para conhecer secret spots, passear, curtir cachoeiras. Por essas e outras, já passaram por sua casa surfistas do peso de Peterson Rosa, Fabio Gouveia, Neco Padaratz, Adriano de Souza e Heitor Alves. “E vários fotógrafos de surf”, acrescenta Aleko. “Sebastian Rojas, Tony Feury, Levy Paiva.”

A proximidade com os surfistas brasileiros fez Marama encarar um avião pela primeira vez na vida, há quatro anos. “Nunca tinha saído do Taiti”, diz. “E achei ótimo descobrir o Brasil, o famoso país do Pelé e do futebol.” Voltou duas vezes, viu o Carnaval do Rio de Janeiro, surfou em Recife, conheceu Ubatuba, virou corintiano depois de ver um jogo do time em São Paulo. Este ano, vem para a Copa das Confederações: seu sobrinho joga na seleção do Taiti, classificada para o torneio.

O nome do sobrinho não poderia ser mais brasileiro. Edson, em homenagem ao Rei.

Segunda chance

$
0
0


Depois de quase perder a vida em um acidente em Puerto Escondido, no México, o Big Rider Aldemir Calunga volta a surfar. Seu próximo plano é retornar ao local com o homem que o salvou da morte

Na praia da Cacimba do Padre, um dos cartões-postais de Fernando de Noronha e principal pico de surf do arquipélago, o big rider Aldemir Calunga aguarda a chegada do tubo de seus sonhos. “Vem vindo um swell atípico do continente”, conta, animado. “Você não tem noção de como é bom surfar nele!” O potiguar de 37 anos começou 2013 no chamado Havaí brasileiro menos para surfar do que para recompor as forças, físicas e mentais, depois do dramático acidente que quase lhe tirou a vida na praia de Zicatela, em Puerto Escondido, México.

A história não sai da cabeça de Calunga. Era um domingo, 2 de setembro, quando, após sair de uma onda de 8 pés, foi atingido por sua própria prancha no rosto. A tábua lhe perfurou a bochecha, quebrou três dentes até atingir seu crânio. O big rider apagou na hora e afundou no mar. Ao verem que havia algo errado, três surfistas foram ao local e puxaram Calunga pelo strap (cordinha que prende a prancha ao tornozelo) até a superfície, mas as fortes ondas espalharam todos novamente. Foi quando entrou em ação o bombeiro carioca Marcos Monteiro, que, por sorte, estava por perto. “Remei em direção ao Calunga e segurei o corpo dele. Ele estava desacordado, espumando pela boca e pelo nariz e com sangue jorrando do rosto”, lembra ele. “Por causa do mar agitado, o jet ski não conseguia chegar. Então, com ondas batendo na cabeça, carreguei Calunga nos braços até a areia”, conta o salva-vidas de Saquarema, que também é surfista de ondas grandes.

“O big rider vive nesse edge. De um lado, a busca incessante pela superação. Do outro, a morte”

Da pancada no rosto até chegar à praia foram seis longos minutos. “Calunga tinha função cerebral, mas o coração havia parado”, explica o bombeiro. Monteiro e outros salva-vidas fizeram a reanimação cardiopulmonar. Minutos depois, o surfista voltou a respirar. Uma ambulância o levou até o hospital da região e, de lá, foi transferido para a Cidade do México, onde ficou em coma por oito dias. A notícia correu o mundo e formou-se uma corrente de oração envolvendo fãs, amigos, familiares e alguns dos maiores big riders do planeta. “Calunga é muito querido e admirado”, diz Carlos Burle, ex-campeão mundial de surf em ondas grandes e vencedor da estatueta de maior onda de 2002 no Billabong XXL, a principal competição de surf em ondas gigantes do mundo. “É um surfista com manobras fortes, um excelente tube rider! O acidente nos deixou bastante apreensivos”, acrescenta Burle. Outro big rider, Pedro Scooby, concorda: “Todo mundo orou por ele. Eu orei muito”.

Irmãos de remada

Quando acordou do coma, Calunga não se lembrava do que tinha ocorrido no México. Ainda não se recorda. “Só me lembro da hora em que a prancha bateu e de momentos no hospital.” Nos primeiros meses de recuperação, as ideias estavam confusas e o pensamento era difícil de elaborar. “Mas agora está tudo bem, as ideias não embaralham mais. Só me restou uma pequena fratura no crânio. Preciso tomar cuidado porque posso ter ataques epiléticos. Graças a Deus, não tive nenhum, e espero não ter”, explica. Para evitar crises, passou a tomar remédios e fazer tratamento psicológico. “O psicólogo recomendou que eu buscasse um lugar onde me sentisse em paz e seguro para voltar a surfar. Por isso vim a Noronha.” Ironicamente, nesse período foi registrada uma das maiores ondulações já vistas na ilha. Ondas de 5 metros afundaram barcos e interditaram praias. Quando falamos com ele, Calunga tentava obter passagens para levar o bombeiro que o salvou para pegarem onda juntos no arquipélago.

Fã de Calunga, Monteiro conheceu o ídolo no México. “Sabia que ele era fera não só no surf, mas gente boa também.” Um mês após o acidente, num evento promovido pelo canal de esportes ESPN, os dois se reencontraram em Natal (RN), terra onde Calunga, que mora em Fortaleza (CE), nasceu. Passearam pelas ruas, encontraram amigos e surfaram. “Somos irmãos agora. Temos planos de voltar a Puerto Escondido juntos”, diz o big rider potiguar.

“O mar te devolve o que você dá. É uma troca perfeita e exata”

Sobre o acidente, Calunga afirma não ter restado trauma, apenas os dentes quebrados, a cicatriz no rosto e a fratura no crânio. “Mas tá beleza, não tô nem aí pra isso. O importante é que estou surfando”, diz. A grande lição, diz, é que, além das medidas de segurança, é preciso ter uma atitude de reverência ao mar, sem a arrogância de quem acha que pode tudo. “O big rider vive nesse edge. De um lado está a adrenalina da busca incessante pela superação e do outro lado está a morte. É fundamental ter amor e respeito pelo mar porque ele te devolve o que você dá. É uma troca perfeita e exata. Eu acredito nisso.”

Redução de riscos

A prática do surf de ondas grandes ganha cada vez mais adeptos no Brasil e no exterior. A facilidade de equipamentos como o jet ski – usado para levar o surfista até a onda – ajudou a popularizar o esporte. “Mas tem muita gente querendo pegar onda grande sem o menor preparo. E não é brincadeira. O Calunga é um cara super experiente e olha o que aconteceu”, alerta o big rider Pedro Scooby. E acrescenta: “Se algo sai errado, é a sua vida que está em jogo. Não é um esporte como o vôlei, em que no máximo você torce o joelho. Por isso é fundamental estar preparado”, diz o atleta. Exemplos de acidentes fatais não faltam.

Na mesma praia de Zicatela, onde Calunga se acidentou, outro grande surfista, o californiano Noel Robinson, morreu afogado em 2010 após ser atingido pela prancha.

Calma e força

“Acidentes acontecem, mas o surfista deve se preparar física e psicologicamente para a hora do imprevisto. Ele precisa manter a calma para tomar as decisões certas, ser forte o suficiente para aguentar as porradas das ondas e flexível para não romper ligamentos. Deve treinar força e alongamento”, afirma Carlos Burle. O uso de equipamentos adequados é fundamental. “O que fez Calunga desmaiar foi a pancada da prancha na cabeça. Ele poderia ter evitado usando uma cordinha maior e se protegendo com as mãos. Usar capacete ajuda muito”, recomenda Burle. “Há coletes infláveis usados tanto para o tow-in, surf de reboque com jet ski, como para o surf de remada. Se Calunga estivesse com um, teria ajudado muito no resgate”, diz Marcos Monteiro.

Outra recomendação é estar sempre acompanhado de outros surfistas e de uma equipe de salvamento.

The Ride Gallery

$
0
0


Para conhecer os maiores artistas-surfistas do mundo, você não precisa nem sair de casa. A galeria virtual de arte Ride Gallery acaba de expandir o seu acervo e é hoje a maior base de dados artísticas ligada à cultura surf em toda a internet.

Dirigido pelo curador Sam Anderson, o site já tem um número respeitável de artistas em seu portfólio, com nomes como Aleix Abellanet (Espanha), Nick Frank (Alemanha), David Jacobs (EUA), Kamargo (Bélgica), Dalton Portella (EUA), Natalia Rak (Polônia), Remi Thornton (EUA) e o coletivo X-Ray Machines (Austrália), entre muitos outros.

No arquivo do site estão telas, esculturas, posteres, gravuras e fotografias conectadas, de uma forma ou de outra, ao estilo de vida ligado à prática de esportes radicais. O destaque, claro, é para o surf, que sempre andou de mãos dadas com diversas formas de expressão artística visual.

"Ao invés de encarar os fardos e custos imensos de uma locação permanente de tijolos e cimento, a Ride Gallery consegue mostrar imediatismo e uma relevância aprimorada ao mostrar online esses excitantes artistas através de um modelo nômade baseado em pop-ups", explicou o curador em um comunicado oficial. "A galeria vai prover exposição global a esses incríveis novos talentos, ao mesmo tempo que proporciona um ponto de entrada acessível para muitos colecionadores."

Vai lá: www.theridegallery.com

Rumo ao bi

$
0
0


Laurent Pujol

Danilo Couto em Mullaghmore Head,  na Irlanda

Danilo Couto em Mullaghmore Head, na Irlanda

Prendam a respiração! Tem brasileiro na disputa de onda ano no Billabong XXL 2013, o troféu que é o Oscar das ondas grandes no surf internacional. No final do mês passado, o baiano Danilo Couto enfrentou uma tempestade congelante na costa de Mullaghmore Head, na Irlanda, e saiu com imagens impressionantes de um swell gigantesco do lado oceânico do Eire.

O prêmio de Ride of The Year é considerado o mais importante da noite de gala dos big riders de elite. Danilo já levou o trofeu em 2011, depois de ter disputado e perdido três finais na premiação. Sua vitória aconteceu graças a um monstro de 20 metros que ele domou no braço em Jaws, até hoje considerada uma das três maiores ondas já dropadas no braço na história do esporte.

Nativo de Salvador e conhecedor de Ilhéus e Itabuna, onde passou muitos dias de sua infância nas fazendas de cacau dos pais, Danilo teve de se encapotar e encarar o frio do Atlântico Norte para conseguir um espaço na disputadíssima competição deste ano.

Veja abaixo o drop e torça por Danilo Couto no Billabong XXL 2013.

Vai lá: www.billabongxxl.com

Quem é quem no Tour 2013

$
0
0


2013 promete para o mundo do surf profissional. A volta da modalidade para os X-Games, a expansão das competições femininas e de ondas grandes e a vitória de Joel Parkinson batendo o quase invencível Kelly Slater no circuito mundial atraem as atenções do mundo para o ASP World Tour 2013. E neste ano, seis brasileiros disputam o título com os maiores surfistas do planeta para decidir quem será o campeão mundial de surf profissional. São eles Adriano de Souza, Gabriel Medina, Miguel Pupo, Alejo Muniz, Filipe Toledo e Raoni Monteiro, com Willian Cardoso e Heitor Alves ocupando as posições de suplentes nº 3 e 4.

Em um comunicado oficial, o nosso Mineirinho veio à público para falar de suas esperanças de vencer pela primeira vez o Tour e de se tornar o primeiro brasileiro campeão mundial de surf profissional. "2013 tem tudo para ser meu melhor ano no calendário mundial do surf. Estou muito preparado para começar a temporada. Quero e sei que posso fazer o que as pessoas esperam de mim e espero corresponder a todo o apoio que tenho recebido", comentou.

"Tenho que evoluir em algumas etapas do circuito, em relação à ondas. Tenho que surfar melhor, e farei isso porque estou treinando muito. Se eu conseguir concertar esses detalhes, acho que terei condições de disputar o título com muita qualidade neste ano. Nos últimos anos, acabei sempre entre os cinco melhores. E sei que estou preparado para ir além disso", completou.

Reprodução/ASP

Joel Parkinson levanta o caneco em Pipeline, onde sagrou-se campeão mundial em 2012. O australiano é o homem a ser batido neste ano

Joel Parkinson levanta o caneco em Pipeline, onde sagrou-se campeão mundial em 2012. O australiano é o homem a ser batido neste ano

Mineirinho quer, ao lado dos outros brasileiros, abrir o ano bem na Austrália, onde começou hoje primeira etapa do circuito: o Roxy Pro Gold Coast. Ali, ele tem como maior adversário o atual campeão da etapa e dono da casa, Taj Burrow. "Posso dizer que o Taj é a pedra no meu sapato nessa etapa. Nas últimas quatro vezes aqui em Gold Coast, perdi para ele", relembrou Mineiro. "Quero vencer e, durante o caminho, encontra-lo para, enfim, dar o troco e quebrar essa sina"

Na lista abaixo você conhece um pouco mais sobre os brasileiros que disputam o mundial de surf neste ano.

Adriano de Souza - O mineirinho é quase um veterano do Tour e o brasileiro mais bem colocado no mundial nos últimos cinco anos. No ano passado acabou em quinto lugar, tendo em Gold Coast sua melhor colocação (2º). Seu melhor desepenho em uma temporada foi em 2011, quando acabou em quinto mas venceu duas etapas: no Billabong Rio Pro da Barra da Tijuca e no Rip Curl Pro de Portugal.

Gabriel Medina - Às vésperas de completar 19 anos, o jovem surfista terminou em sétimo no ano passado depois de ser vice campeão em duas etapas do torneio. A primeira delas foi no Volcom Pro Fiji contra Kelly Slater, uma disputa épica na onda favorita do multicampeão mundial. Medina, que agora tem em seu arsenal backflips absurdos, estreou no circuito em 2011 com duas vitórias inesquecíveis no segundo semestre: primeiro contra Julian Wilson na França, depois contra Joel Parkinson em São Francisco.

Alejo Muniz - O catarinense de 23 anos estreou no tour em 2011, quando conseguiu sua melhor classificação com um 10º lugar no ranking. Sua melhor colocação em uma etapa até hoje foi um terceiro lugar no Rip Curl Search de São Francisco em 2011 (que teve Medina campeão). Em 2012, Alejo acabou em 18º.

Miguel Pupo - Local de Camburi, no litoral norte de São Paulo, o surfista de 22 anos entrou para valer na disputa do título apenas no ano passado, quando teve sua primeira temporada cheia na elite do surf mundial. Miguel terminou em 17º em 2012, chegando às quartas de final em South West Coast, na França, durante o Quicksilver Pro, quando acabou em quinto.

Raoni Monteiro - Aos 31 anos, o fluminense de Saquarema é o mais velho brasileiro na disputa do Tour entre os 34 "titulares". O veterano competiu no mundial pela primeira vez em 2004 e já acumula seis participações no WCT desde então. Sua melhor colocação geral foi um 25º lugar no ano da sua estreia e seu melhor desempenho em uma etapa foi um quinto lugar em 2011 na complicadíssima etapa do Thaiti, na mortal praia do crânios quebrados, o Billabong Pro Teahupoo.

Filipe Toledo - Com 17 anos, o surfista de Ubatuba rouba o lugar de Medina como mais jovem brasileiro do Tour. Filipe estreia como profissional no WCT neste ano e tem sua chance de mostrar que tem condições de competir entre os 34 maiores nomes do surf no planeta. Ele não chegou a disputar o World Tour no ano passado, mas ainda assim terminou rankeado entre os 30 melhores surfistas do ano na lista da ASP que engloba todas as categorias do esporte.

Os suplentes: quando um dos 34 surfistas da elite não pode disputar uma etapa por qualquer motivo que seja, entram em ação os reservas. Neste ano, dois brasileiros ocupam posições entre os quatro suplentes. Um deles é Heitor Alves, cearense de Fortaleza, que chegou ao top 20 em 2011 atingindo o 18º lugar. O outro é Willian Cardoso, que volta a ser suplente depois de terminar o ano de 2012 em 36º no Tour e em 33º no ranking mundial.

Mapas secretos do surf

$
0
0


Simplicidade e complexidade andam de mãos dadas no trabalho do designer americano Matthew Korbel-Bowers. Surfista de longa data, ele mostrou sua paixão pelo esporte na sua série Secret Surf Maps, onde ele transforma mapas para picos clássicos do surf em posters minimalistas vetoriais.

Os mapas dão direções para várias ondas famosas do norte da Califórnia, terra natal do surfista-artista. Alguns deles podem não ser mais explorados, outros podem até se ilegais, mas ele não revela de forma nenhuma como decifrar seu código, mas sabe que surfistas locais experientes serão capazes de entender a mensagem criptografada em suas obras.

Mesmo para quem não consegue seguir as direções dos mapas abstratos do designer de São Francisco, é impossível não se encantar com as cores vivas e a sensação praiana que a obra de Matthew passa. Seus posters estão à venda na loja virtual da Society6 e custam entre US$18 e US$ 52 (R$35 - R$102).

Na galeria acima você vê alguns dos mapas secretos de Korbel-Bowers.

Vai lá: www.korbelbowers.com


Playmobil radical

$
0
0


O francês Karim Rejeb é um veterano do stop motion na internet. Há mais de cinco anos mantendo no YouTube o canal Xtreme Sports Stop Motion, onde ele coloca bonequinhos Playmobil para enfrentar desafios de surf, skate, motocross e muito mais. Mas esse não é o único talento desse apaixonado por esportes de ação.

Multiartista e multimídia, ele também pinta e fotografa picos de surf e skate com olho clínico de quem vive e respira esportes de ação. Sua arte cobre desde pistas de skate europeias até praias de ondas perfeitas, incluindo spots famosos do surf no velho continente.

Ao ver os vídeos de Karim, leitores assíduos da Trip vão se lembrar da arte do fotógrafo Alberto Seveso, de quem falamos por aqui em março do ano passado graças à sua série Ink Riders.

Na lista abaixo você vê alguns vídeos produzidos pelo artista, que com toda a certeza são o destaque de sua obra. Para conhecer mais de perto o trabalho do francês, acesse seu site oficial.

Lino: a busca pela onda perfeita em um mundo de plástico

 

Dirt toys

 

Perfect Holiday

Vai lá: http://karimrejeb-surfart.com

***

Bônus: Em 2002, o VJ Palumbo, pioneiro na arte do video jockey no Brasil, produziu para a Trip um curta em stop motion similar aos que Rejeb cria na França. Veja abaixo.

Surf redondo

$
0
0


Radicado há dez anos em Bali, o californiano Jimbo Pellegrine desafia os preconceitos (e a física) tratando as ondas como poucos surfistas conseguem fazer — mesmo carregando 180 quilos no corpo

James Scott Pellegrine tinha menos de 2 anos quando viu Waimea quebrar pela primeira vez. A história é engraçada, mas poderia ter sido trágica – um ritmo, aliás, que a vida de Jimbo (como o californiano é chamado) conhece bem.

Os pais de Jimbo estavam no North Shore havaiano, em Oahu, para onde se mudaram quando o filho tinha uma semana. De repente, perderam Jimbo na praia. Era uma manhã do inverno de 1971, na qual ondas de 25 pés quebravam forte na baía. Jimbo foi andando até a beira do mar, entrou e sentou. Ali, ficou brincando, sem saber que estava no famoso e temido “shore break” de Waimea e que uma parede de água vinha firme em sua direção. O salva-vidas, sem acreditar no que via, teve tempo de descer de sua torre e irromper para tirar Jimbo dali segundos antes de a onda estourar. Alheio ao frenesi, o pequeno Jimbo gargalhava.

O episódio foi contado por ele para a reportagem da Trip, que o alcançou por telefone em sua atual residência: uma casa com deque, piscina e vista para as colinas de Bali. “Meu pai adora contar sobre esse dia”, disse. Para a comunidade de surf em Bali, Jimbo é um mito – ainda que ele garanta ter muitos desafetos. As histórias a seu respeito são fartas: foi um adolescente rebelde, passou dois aniversários internado em centros de reabilitação na Califórnia antes dos 18, era aposta certa para morrer antes dos 20… Mas se recusou a cumprir o destino que traçaram para ele.

La vida loca

Aos 3 anos, ganhou do pai, também surfista, a primeira boogie board. Aos 6, a primeira prancha de surf. Aos 7 realizou as primeiras manobras e, aos 11, venceu o primeiro campeonato em pé na prancha. “Eu surfava todos os dias sem parar”, diz. “Meu pai era amigo de Mike Doyle, que fazia pranchas para mim. Essa era a minha turma.”

Hoje morando na Indonésia, a vida de Jimbo adquiriu contornos épicos para a comunidade do surf. Em Bali, Jimbo é mais que um nome: é um estado de espírito. Não apenas porque, mesmo com quase 200 quilos, faz sobre uma prancha manobras que pesos-leves não conseguem realizar, mas especialmente por viver cercado de mulheres, surfistas alucinados e baladas. Quando falamos com ele pelo telefone, o barulho de vozes ao redor lembrava o de uma festa – eram dez da manhã de uma quinta-feira em Bali. Por lá, todos sabem que a rotina dos que ficam hospedados em sua casa é surfar em Desert Point até o dia terminar, voltar para a casa dele e festejar até o sol e as ondas retornarem na manhã seguinte.

Apesar de viver la vida loca, Jimbo é um empresário bem-sucedido. Morando em Bali desde 2003, para onde foi a fim de passar apenas um mês surfando, encontrou espaço vendendo pranchas e alugando casas de veraneio. Surfistas que chegam ali a fim de teto, ondas e diversão sempre perguntam por Jimbo. “Vi que não queria mais sair quando surfei, em menos de um mês, as melhores ondas da minha vida”, diz.

 

Apesar da performance matadora, Jimbo atrai muito olhar torto: "o mundo está cheio de babacas"

 

Em pranchas feitas sob encomenda e cujos tamanhos variam entre 7’0 e 7’6, com 24 de largura e 3-3/4 de borda, ele realiza manobras de deixar de boca aberta quem vê. Mesmo assim, conta que é bastante comum ser alvo de olhares tortos quando pega sua prancha para cair no mar. “O mundo tá cheio de babacas. O que vou fazer se tem gente que prefere odiar? E, de qualquer jeito, eu surfo melhor do que a maioria deles”, diz, rindo, mas deixando escapar uma ponta de frustração quando fala do assunto. “Não entendo por que algumas pessoas se esforçam tanto para falar de como as outras deveriam ser e viver. Esse tipo de gente me deixa maluco. Tento me acalmar e apenas me esforçar para ser um cara melhor para mim e para as pessoas que realmente importam.”

Em Bali, Jimbo também está lançando uma marca de bebidas energéticas e um álbum no qual toca músicas de sua autoria (chamado Get fucked it rocks). Só que a fama de bad boy não o abandona. Ele contou ao site balibelly.tv que, quando foi contratado para representar uma empresa americana de pranchas em Bali, a marca criou uma cartilha de código de conduta: o documento proibia Jimbo de suar incontrolavelmente durante reuniões (Jimbo sua muito), de ameaçar de morte outros funcionários (ele diz que foi pra cima de um colega de trabalho apenas uma vez) e de se entregar a baladas até de manhã com surfistas do time em temporada de eventos.

Mas há histórias que talvez contribuam ainda mais para criar o mito. A do raio é uma delas. Jimbo estava com amigos tocando guitarra em seu deque quando um raio o atingiu em cheio, jogando seus 180 quilos em direção à janela, e a guitarra, toda arrebentada, mais longe ainda. Ao abrir os olhos, estava, em suas palavras, “fritando”, cercado de gente e dos gritos da namorada: “Dude, you got hit by a lightning!” (“Cara, você foi atingido por um raio!”). Outro episódio pitoresco é o da balada em que ele estourou um dos joelhos dançando. Foram necessários quatro caras para arrastá-lo até seu automóvel, e, enquanto atravessavam a rua, um carro desgovernado veio na direção deles. Os amigos tiveram tempo de vazar, mas deixaram Jimbo no meio do asfalto. Sem conseguir andar, foi atropelado e jogado contra a parede. Quando o motorista, bêbado, viu que ele estava bem, saiu gritando: “Ei, seu maluco, você amassou meu carro”.

Ainda que haja muitas outras, vamos contar só mais uma: Jimbo estava com amigos surfando em Middles Beach, em Porto Rico, quando um tubarão apareceu. Todos, menos Jimbo, conseguiram pegar uma onda e sair dali. Da areia, gritavam para que ele também viesse. Apavorado, Jimbo pegou uma onda de uns 8 pés, caiu formidavelmente, a prancha quebrou em três pedaços, seu calção foi arrancado e ele saiu da água completamente nu.

Não é difícil perceber que Jimbo é um cara intenso, apaixonado e que não tem medo de excessos. Quando pergunto o que seria da vida dele sem o surf, diz que seria um fracasso. “Obviamente, gosto muito de comer”, emenda, “mas também de pranchas novas, boas ondas, amigos sinceros e uma mulher que me ame. Adoraria, aliás, se ela fosse brasileira”, completa, maroto.

 

Peter Frieden

O havaiano Shawn Briley em ação em Lombok, Indonésia

O havaiano Shawn Briley em ação em Lombok, Indonésia

A insustentável leveza dos surfistas encorpados

Por Tulio Brandão

O surf é farto de magrelos, que se equilibram sobre cambitos em pranchas tão finas que mais parecem folhas. Na água, quando surge um garoto mais pesado, um tiquinho mais encorpado que os outros, ganha logo o apelido de Gordo.

Felipe Cesarano, um dos melhores surfistas de ondas pesadas do mundo, recebeu de presente a alcunha logo depois da primeira prancha. “Eu estava fora de forma, a galera não perdoou.”

Renato Tincoc/FLUIR

O brasileiro Felipe Cesarano, que nunca perdeu o apelido de Gordo

O brasileiro Felipe Cesarano, que nunca perdeu o apelido de Gordo

Gordo treinou, emagreceu e transformou a gordura em massa muscular. Hoje, aos 26 anos, usa o talento, o espírito “go for it” e a estrutura física avantajada para se jogar em montanhas d’água capazes de fazer qualquer baleia afinar, como o maior teahupoo da história, que os iniciados chamaram de Code Red.

“Por eu ter um peso e a estatura baixa, meu centro de equilíbrio é bom. Eu aguento o tranco legal. Mesmo com todas as vacas que eu tomo, nunca tive uma lesão grave surfando.”

Da banha, só restou o apelido. O cara é, hoje, 
o sexto do mundo no circuito mundial de ondas grandes. “Gordo” virou marca registrada. Ou mais que isso: certo dia, num swell pesado em Puerto Escondido, no México, o americano Greg Long, ao perceber o brasileiro bem posicionado para uma bomba de 20 pés, gritou: “Go!”.

Nascia o slogan “Go, Gordo!”, que virou campanha de marketing e estampou camisas e outros produtos de sua patrocinadora, a Rusty. Deu tão certo que, em abril, a empresa espera lançar o filme Go Gordo 2, com novas aventuras do hoje quase magro Felipe Cesarano.

O australiano Michael Lowe, que esteve entre os melhores do mundo por 12 anos, é outro surfista que um dia foi confundido com um gordo. Apesar da força e do fôlego invejáveis, foi estereotipado por ter um porte físico mais atarracado, pesado.

Isso jamais significou mais que um número um pouco maior na balança. De 1996 a 2008, teve uma carreira respeitável, com três vitórias em campeonatos de elite (França, Fiji, Austrália). Destacava-se em mares de todos os tamanhos, especialmente os tubulares.

Na final de Snapper Rocks, na Austrália, em 2004, o surfista virou ninja. Num mar com pouco mais de 1 metro, usou seus 83 quilos distribuídos em 1,75 metro para vencer o tricampeão mundial Andy Irons, no auge da forma. Seu adversário ostentava, antes do vício em drogas que o levou à morte, as medidas do surfista perfeito: 77 quilos num esqueleto de 1,83 metro.

A conquista é definitiva, sobretudo por Mick ser goofy: desde então, nenhum outro surfista que manobra de costas para aquela onda venceu em Snapper Rocks.

Os companheiros mais magros diziam que Mick tinha “kegs on legs” (numa tradução livre, pernas de barril). O que Mick tinha, na verdade, era uma feliz combinação de força e talento.

Trip o encontrou trabalhando no DRB Group, empresa de Sydney, Autrália, que gerencia carreiras de atletas. Velho amante de cervejas e esportes australianos, ele virou um gerente de sucesso. Por e-mail, gentilmente, declinou da entrevista, porque jamais considerou suas medidas uma questão importante.

O havaiano Shawn Briley, de longe o mais volumoso da lista de grandes surfistas competitivos da história, também não parecia se importar com seu peso. Nos anos 90, ele ditava os limites nos mares mais assombrosos de Pipeline, Sunset e até mesmo no temido quebra-coco de Waimea. Em 95, apesar de jamais ter seguido o circuito profissional, venceu, com o conhecido apetite, um evento apenas para convidados especialistas em tubo, o Tavarua Tube Classic, em Fiji.

O peso-pesado evocava, com suas performances extremas, os polinésios mais corajosos, para quem o espírito forte era mais importante que o corpo sarado.

“Não há leis no surf. Posso ser tão rápido, radical e criativo quanto quiser. Não há limite de velocidade, sinais de trânsito e ninguém te diz o que fazer”, disse Briley, certa vez, numa entrevista.

Mantinha o princípio fora da água, para desespero de seus pares. Gostava de correr e arrebentou-se várias vezes em acidentes de moto ou carro.

O havaiano sossegou com a família e passou uma década longe dos holofotes até ser encontrado pela mídia dentro d’água, em 2011. Estava mais gordo, mas ainda se encaixava nos canudos de Pipeline, Uluwatu e outros picos. Briley finalmente subverteu a lógica do magro. Provou que, no surf, documento é o talento, e não a barriga.

90 anos lendários

$
0
0


Arquivo pessoal

Jack O

Jack O'neill

Em 2010, a Trip abriu espaço em suas páginas para contar a história de um homem que mudou sozinho toda a trajetória do surf. Mais do que isso, que mudou para sempre também a natação marítima, o mergulho de águas profundas, a pesca submarina e a perfuração de petróleo em plataformas marítimas, tudo isso graças aos trajes de neoprene para surf, sua maior invenção. Recentemente, o pioneiro Jack O'Neill completou 90 anos ainda na ativa na produção tecnológica de trajes aquáticos e à frente de seu império, a marca de material esportivo O'Neill.

Na ocasião, nosso publisher Paulo Lima sentou com o mitológico surfista e empresário na Califórnia para uma conversa que rendeu uma excelente entrevista sobre surf, negócios e inovação.

Tem uma história boa sobre como você tentou entender o funcionamento do plástico para manter a temperatura do corpo...
"Eu estava testando diferentes maneiras de se manter aquecido. Foi uma época, no fim dos anos 40, em que havia um monte de lojas de suprimentos de guerra. E essas lojas tinham os descartes da indústria da guerra. Então fui a uma dessas lojas e descobri o que eles usavam para se manter aquecido na zona de combate. Era uma espécie de lençol de borracha por cima de uma coisa como uma lã... e funcionava muito bem. Mas eles nunca aperfeiçoaram o produto no sentido de fechá-lo depois que você entrava naquilo. Então na água era um problema.

Você provavelmente faz parte de uma das primeiras gerações de surfistas daqui da Califórnia, certo?
Não, não, havia gente surfando no Havaí já nos idos de 1800. E esses caras também foram os primeiros a surfar na Califórnia. Tinha também um irlandês que provavelmente fazia isso naquela época, mais para o sul.

Qual foi a coisa mais importante que você aprendeu com o oceano?
Nossa, eu tirei tanto do oceano, aprendi tanto com ele. Meus filhos, os filhos deles e outras crianças também. Nós já levamos perto de 60 mil crianças nesse projeto.

Depois de todos esses anos trabalhando na O'Neill com grande sucesso, quais lições você tirou da vida como um homem de negócios?
Penso que tive boas oportunidades, o timing foi perfeito. No norte da Califórnia, a temperatura do mar é muito baixa. Era um lugar natural para o desenvolvimento desse tipo de produto. E tivemos a exclusividade na manufatura das roupas de borracha por um bom tempo, isso nos deu tempo para nos aperfeiçoarmos. As pessoas riam das roupas no começo, mas agora usam no mundo todo.

Veja abaixo a entrevista em vídeo

Vai lá: http://revistatrip.uol.com.br/revista/192/reportagens/terra-de-cego.html

Jingle Bells

$
0
0


Debaixo de chuva, tempo feio e mar torto na final, o brasileiro Adriano de Souza venceu ontem a segunda etapa do mundial de surf em Bells Beach, uma das mais tradicionais prova do ASP World Tour. Derrotando o menino prodígio Nat Young na final e depois de passar por uma semifinal apertadíssima contra o favorito do torneio, o sul-africano Jordy Smith, Mineirinho tornou-se o primeiro sulamericano a vencer em Bells, etapa que chegou à sua 52ª edição em 2013.

Com isso, Mineiro tocou o tradicionalíssimo sino que dá nome à praia, mas na empolgação acabou até quebrando o encaixe que segurava o sino no trofeu. Mineiro pediu mil desculpas aos presentes e aos organizadores, mas não escapou do mico na transmissão mundial de TV. Coisas que acontecem com os campeões.

Essa foi a primeira vitória de Adriano de Souza no mundial desde o Rip Curl Pro de Peniche, Portugal, em outubro de 2011. O show de Mineiro no mar congelante do sul da Austrália levou o brasileiro à quarta posição no mundial, atrás dos australianos Taj Burrow e Mick Fanning e do americano Kelly Slater, que lidera o ranking após vencer a etapa de abertura em Gold Coast. E Adriano não é o único brasileiro no Top 20 este ano. Ele tem a companhia de Filipe Toledo em nono, William Cardoso em 16º e Raoni Monteiro em 18º.

A próxima etapa do Tour é em terras brasileiras, mais precisamente no Rio de Janeiro, entre 8 e 19 de maio. Como sempre, Mineiro é favorito para levar o Billabong Rio Pro e pode chegar até à liderança do circuito com uma vitória nas areias cariocas.

Veja alguns dos grandes momentos da bateria final no vídeo abaixo (a ação começa em 3:31).

 

RIP CURL PRO BELLS BEACH - FINAL
1 – Adriano de Souza (BRA) 16.26
2 – Nat Young (EUA) 15.83

SEMIFINAL
Nat Young (EUA) 15.10 def. Taj Burrow (AUS) 13.43
Adriano de Souza (BRA) 18.44 def. Jordy Smith (ZAF) 18.40

QUARTAS DE FINAL
Taj Burrow (AUS) 15.50 def. Kai Otton (AUS) 14.50
Nat Young (EUA) 17.27 def. Willian Cardoso (BRA) 14.83
Adriano de Souza (BRA) 14.33 def. Mick Fanning (AUS) 13.76
Jordy Smith (AFS) 16.77 def. Filipe Toledo (BRA) 13.20

TOP 5 APÓS DUAS ETAPAS
1. Kelly Slater (EUA) 11,750 pts
2. Mick Fanning (AUS) 11,700 pts
2. Taj Burrow (AUS) 11,700 pts
4. Adriano de Souza (BRA) 10,500 pts
5. Joel Parkinson (AUS) 9,750 pts
5. Nat Young (EUA) 9,750 pts

Muito mais que uma onda

$
0
0


Dane Reynolds, o surfista mais empolgante em atividade no mundo, tornou-se quase um herói ao abrir mão das competições e caminhar na contramão

Dane Reynolds redefiniu o surf no século XXI. Unindo um revolucionário jogo aéreo a doses igualmente brutais e ambíguas de força, fluidez, abandono e espontaneidade sobre uma prancha, o californiano é hoje o surfista mais talentoso do mundo. Palavra do supercampeão Kelly Slater. O brilhantismo de Dane não se mede pelo número de manobras que traz em seu repertório ou pelo histórico no cenário competitivo. Sua grandeza está no conjunto da obra. Nas linhas que escolhe para desenhar paredes líquidas. Na agressividade crua com que destrói seções ou as sobrevoa. No estilo imprevisível que transborda radicalidade poética.

Assistir a Dane surfar é como ver um artista em seu apogeu. É descobrir que a perfeição existe da maneira mais imperfeita e improvável possível. Em terra, ele é quieto e modesto, quase misterioso. Avesso aos holofotes, quando não tem para onde correr – em um campeonato ou grande evento – não esconde o desconforto. Não que seja inseguro: Dane simplesmente preferia estar em outro lugar.

Suas entrevistas são sempre uma incógnita – às vezes, reveladoras, outras vezes, enigmáticas. Três anos atrás, no Havaí, perguntei se ele sonhava com o título mundial. Depois de uma longa pausa, respondeu: “Vamos surfar, parece que o mar melhorou”. E assim terminou a conversa: fomos para a água e nunca voltamos ao assunto.

 

“Rankings e troféus significam pouco para mim. Quero aprender, quero fazer coisas, coisas com um propósito”

 

Meses depois, tive a resposta: o sucessor natural de Slater anunciou que não almejava o mesmo destino. Tornar-se um dos maiores ícones do esporte em todo o mundo não era pra ele. Remando contra a maré, aos 26 anos de idade, Dane disse chega. A notícia que sacudiu o mundo do surf, pouco mais de um ano atrás, veio na forma de uma carta publicada em seu blog. Honesto e corajoso, seu texto “Declaration of Independence” (declaração de independência) explicava, em 1.600 palavras, por que ele decidiu largar as competições e seguir seu próprio caminho. Apesar de privada de letras maiúsculas e com pontuação duvidosa, a carta é articulada e reveladora.

“venho sendo pressionado por várias pessoas e pela imprensa a escrever algo como um pronunciamento oficial sobre minha saída do circuito mundial. Minha arregada. Minha pirueta. (...) três marcas me apoiam e me permitem surfar todos os dias e viajar e comer e ter uma casa para morar. Em troca as represento de uma maneira positiva. (...) ao aceitar seu apoio eu assumo certa responsabilidade. Alguns pensam que essa responsabilidade é competir. É colocar uma lycra de competição e destruir meus adversários. Mesmo que seja através de um critério inconsistente e unidimensional onde o resultado raramente está ligado apenas à performance. Talvez esse seja o apelo. Eu não sei. Eu até gosto de competir. Mas será que acredito na competição? O suficiente para dedicar uma grande parte de minha vida para isso? (...) aventura acima da responsabilidade. Suicídio de carreira! Potencial desperdiçado. Talento jogado fora. Eu sei o que vão dizer. (...) mas rankings e troféus significam pouco para mim. Quero aprender, quero fazer coisas, coisas com um propósito, quero ser produtivo. Viajar. Novas experiências. Novas sensações. E, principalmente, explorar os limites do surf de alta performance. (...) este pode ser o fim de um candidato ao título mundial. Mas é também um recomeço.”

Se por um lado sua inédita declaração de independência foi duramente criticada por parte da imprensa especializada – que o acusou de ser um preguiçoso hipster que só queria mamar nas tetas da indústria sem assumir sua responsabilidade de atleta –, por outro, Dane tornou-se herói instantâneo para milhares de fãs em todo o mundo. Afinal, não há nada mais atraente do que um rebelde sábio e desinteressado. Ao virar as costas para as competições, a fábrica de ídolos programados para vender bermudas, Dane virou o surfista dos surfistas. Um cara anti establishment. Anticomercialismo. Anti-status quo. Um herói do underground. Um surfista de verdade.

Sua atitude genuína e indomável, unida a seu surf espontâneo e criativo, transformaram-no em um dos maiores ídolos que o surf já viu. E ele nunca venceu um campeonato. No fundo, Dane é apenas um homem de talento excepcional que preferiu conduzir a carreira de uma maneira diferente. E, se conseguiu que seus patrocinadores o apoiassem nessa empreitada, isso por si já é um feito que não anula o raciocínio que o levou a desistir das competições. Ao contrário: sua posição financeira privilegiada (especula-se que seu salário supere US$ 1 milhão por ano) lhe proporciona um escopo bem mais amplo de possibilidades. O que haveria de errado nisso?

Atualmente, Dane abre uma trilha virgem para surfistas profissionais. Diferente de qualquer freesurfer pago para produzir fotos e vídeos, sem competir, ele não segue uma rotina frenética de eterno viajante. O freesurfer comum vive em busca da onda perfeita em paraísos longínquos e exóticos – sempre com a obrigação de retornar com conteúdo para seu patrocinador – e dificilmente passa mais de duas semanas no mesmo lugar.

Dane repudiou tudo isso. Ele preza sua rotina tranquila na Califórnia, gosta da comida caseira da namorada e de longos passeios com seus três cachorros. Seu profundo conhecimento da costa de sua cidade natal, Ventura, permite que fique em casa e mesmo assim surfe muito. Poucos surfistas locais possuem um entendimento tão extenso sobre qual combinação de maré, ondulação e vento transformará uma onda ruim num tubo perfeito. Dane é mestre em decifrar essas nuances.

Não fosse pelos vídeos publicados quinzenalmente em seu blog, aguardados pelo mundo do surf como último capítulo de novela, ninguém saberia que o surf mais contemporâneo do planeta está acontecendo longe dos holofotes, numa pacata cidadezinha da Califórnia.“Dane pode não agradar a todos no mundo do surf”, explica o talentoso fotógrafo Morgan Maasen, seu amigo. “Mas encontrou um caminho próspero e confortável que alimenta a alma e dá sentido a sua vida. Isso é mais importante do que qualquer título mundial.”

*Steven Allain é diretor editorial da revista Hardcore

Vai lá: www.marinelayerproductions.com



Viewing all 2939 articles
Browse latest View live